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Já se foi o tempo em que as moças desabafavam suas angústias num "querido diário" escrito com caligrafia caprichada e que não deveria ser lido por mais ninguém. O amigo íntimo imaginário, feito de papel e tinta, deu lugar aos blogs, que podem ser lidos e comentados pelo mundo inteiro, sem que sua autoria seja revelada. Trata-se de um fenômeno recente, mas que já começa a alterar a construção da identidade feminina, pois estabelece uma nova forma de inserção social e joga por terra teorias consagradas de alguns dos maiores pensadores da comunicação. Em Segredos públicos – Os blogs de mulheres no Brasil, a pesquisadora, professora e escritora Luiza Lobo avalia essa revolução com profundidade, embasamento e clareza incomuns. Como conseqüência, as mulheres têm hoje nos blogs um nível de liberdade muito maior que o experimentado por Anaïs Nin, Colette ou Marguerite Duras. Com a possibilidade de se expor em anonimato, elas incorporam a gíria, o idioleto e o baixo calão, expressando-se de modo mais catártico e profundo. Sua conduta sexual, por exemplo, pode ser descrita em detalhes ou mesmo exibida em fotografias e vídeos, sem que sejam revelados seus rostos e nomes. Eis que surge, segundo a autora, uma nova forma de inserção social: o público-privado, que abole a dicotomia entre o eu confessional, autobiográfico, e a máscara social. A autora não defende nem condena os blogs, apenas os estuda e procura explicá-los. Mas ela louva ao menos um fator positivo do fenômeno: os blogs reforçam a prática da escrita e contrabalançam o avanço da oralidade da cultura de massa, que tem a televisão como sua maior aliada. Isso enquanto não surge o blog falado.