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Nas montanhas de Guerrero, México, como em outros recantos esquecidos pelos governos, não há homens entre os moradores. Quando adultos, eles partem para a cidade grande ou atravessam ilegalmente fronteiras, em busca do sonho americano. Lá, as mulheres devem se mascarar, se esconder ou até mesmo se mutilar, para ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico. À sombra da guerra travada diariamente, as jovens deixam de frequentar a escola, cortam seus cabelos e se escondem em buracos para salvar a própria vida.
Contundente retrato do México atual – muito semelhante ao que acontece em outras paragens do planeta –, Reze pelas mulheres roubadas, da mexicana Jennifer Clement, é um relato escrito em tom de observação antropológica sobre a brutalidade da existência no mundo invisível. No livro, a protagonista Ladydi vê, aos onze anos, a melhor amiga, Paula, “mais bonita do que Jennifer Lopez”, ser roubada para o harém de jovens escravas de um chefe do narcotráfico.
A sobrevivência dita as regras locais. Batizada em homenagem à princesa Diana, desde pequena Ladydi se esconde num buraco camuflado perto de sua casa sempre que os traficantes surgem, em busca de informantes da polícia ou de jovens escravas sexuais. O desaparecimento de pessoas conhecidas não é lamentado por muito tempo. A oportunidade de ascensão social para Ladydi é trabalhar como babá na casa de alguém ligado ao tráfico em Acapulco, o que vai levá-la até a cadeia local, suspeita de cumplicidade por um assassinato, que ela mal sabe como foi cometido. Em seu caminho, encontra-se com variados tipos, que encaixam seus relatos na compreensão de uma rede intrincada de ilegalidades, que determinam a vida da camada inferior na pirâmide da sociedade.
Sem qualquer julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, Ladydi é a voz da inocência que denuncia a negligência política no cuidado de uma população.
Reze pelas mulheres roubadas é finalista do Prêmio PEN/Faulkner 2015.