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Ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria estreante. Suzana Montoro arrebatou o júri com Os hungareses, romance que retrata, de forma original e delicada, a saga de imigrantes húngaros que se estabeleceram no Brasil depois da Primeira Guerra Mundial.
A obra conta a história de Rozália, “uma mulher magra, muito magra, de aparência frágil”, natural de um vilarejo incrustado nos Bálcãs, na bacia do Danúbio. Um dia, “com a mesma naturalidade com que se acorda todas as manhãs”, o povoado virou iugoslavo, dando início à imigração do povo húngaro para outras partes do mundo. Rozália e sua família, como outros tantos hungareses, veio para São Paulo, tempos depois.
Nada aqui, porém, é desenhado sob as referências da história, da guerra ou da política. O grande mérito do romance é reconstituir o microcosmo ao redor da vida de uma mulher, sempre sob o prisma de sua intimidade. Uma trajetória que, no caso de Rozália, revela-se atribulada: a morte precoce da mãe, o magnetismo pela tia excêntrica, amores proibidos, uma fuga, a culpa pelo abandono. Sentimentos e situações universais, que ganham força ao serem narrados com o misto de singeleza e vigor criativo que marcam a escrita de Suzana.
A narradora de Os hungareses se identifica, logo nas primeiras linhas do romance, como a filha caçula de Rozália – aquela que esteve atenta ao “fio dos relatos”. Por isso, nas páginas seguintes, a narrativa é entremeada de duas vozes. Ora é a narradora-filha que conta, em terceira pessoa, a saga de sua mãe; ora é a própria Rozália quem assume, com intervenções curtas, a descrição de sua história. A diferença de dicções e de poéticas, neste entremear de narradores, cria uma delicada tensão, abrindo caminho para uma trama instigante em seus muitos prismas.
Para escrever o livro, Suzana Montoro passou 15 anos colhendo depoimentos de uma comunidade húngara no interior de São Paulo.