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Não, O pedante na cozinha não é um livro de receitas culinárias. Também não é um romance sobre um homem, que depois de fazer um curso de culinária na França, abriu um pequeno restaurante no Brasil e tem o dom de irritar seus candidatos a fregueses com uma infinidade de explicações pretensiosas sobre como são feitas as escolhas de ingredientes de cada prato e qual vinho combina melhor com o que se vai mastigar. O pedante na cozinha trata de culinária, naturalmente, mas é, antes de mais nada, um livro sobre a arte de escrever. Julian Barnes usa sua própria experiência na cozinha para fazer uma espécie de resenha informal de vários livros ingleses de receitas culinárias. E é um alívio saber que mesmo o mais dedicado aprendiz de cozinheiro no corpo de um talentoso escritor é capaz de estragar uma receita que, no papel, parecia perfeita. Como, aliás, acontece a todos os mortais que da arte culinária só entendem de matar a fome – ao menos quando estão eles a pilotar o fogão. Mas não é para menos. Com bem lembra Barnes, é culpa do cozinheiro ou do autor da receita quando um prato que leva uma “pitada” de sal, um “punhado” de farinha, um toque de “hortelã” e pimenta “a gosto” não dá certo? A imprecisão de muitos livros de receitas em nada se compara com a combinação irônica e elegante de palavras que o autor oferece. Pode-se até acreditar que, como Barnes insiste em dizer, O pedante na cozinha seja um livro de um cozinheiro de pouco talento, mais esforçado do que criativo. Mas não dá para duvidar que se trata de um livro de um talentoso escritor, que, ao descrever os tormentos de quem procura seguir fielmente os livros de receita, conta saborosas lembranças de infância e bem temperadas histórias de jantares, dos quais participou como anfitrião ou convidado, que estiveram por um fio pelo simples fato de uma receita não especificar a altura precisa da chama sob uma frigideira.