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Nada a temer contém lembranças de família, um tanto sobre religião e, especialmente, digressões sobre seu medo da morte. Apesar de não ser exatamente uma autobiografia, como avisa o próprio autor, a maior parte das histórias narradas por Barnes são retiradas de suas memórias – e algumas delas são complementadas ou totalmente arrasadas por observações do irmão mais velho, filósofo, que costuma dizer não acreditar muito na memória como um guia para o passado, pois cada um se lembra de forma diferente das mesmas experiências. Grande parte dos amigos são como o próprio autor, que aos 20 anos dizia-se ateu e aos 60 declara-se agnóstico – exceto P., que é católico. No tradicional almoço de sexta-feira, instituído há mais de 30 anos por jornalistas, romancistas, poetas e cartunistas, surge uma pergunta motivada pela notícia de que o papa aboliu o limbo. Sem acreditar que existe algo depois da morte, eles querem primeiro saber onde ficava e o que era o tal limbo. Toda essa introdução para perguntar a P., o católico, se ele acreditava em céu. A ciência serve de consolo para Barnes nessas horas. Cientistas afirmam que todos estamos morrendo, até mesmo o sol, e que tudo que é feito agora algum dia cairá no esquecimento, sejam as lembranças que as pessoas carregam, sejam os livros de escritores famosos que um dia deixarão de ser lidos, sejam os túmulos nos cemitérios que um dia não receberão mais visitas. Chega a ser um tanto dramático ao afirmar que assim como todo escritor terá seu último leitor, todo cadáver terá um último visitante. Ao final, Nada a temer deixa o leitor com uma sensação ambígua: apesar do tom lúgubre de alguns trechos, o livro é um estímulo a aproveitar a vida enquanto não chega o dia que não pode ser evitado.