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Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004, Frei Betto serviu ao Governo Federal como Assessor Especial da Presidência da República. Sua incumbência era cuidar da mobilização da sociedade no Programa Fome Zero e favorecer a relação do Planalto com os movimentos sociais. Calendário do poder é o diário da atuação de Frei Betto durante aquele período. Documenta, em estilo conciso e cativante, o início do primeiro mandato de Lula, os planos e os projetos, as dificuldades enfrentadas, os bastidores do poder, as disputas políticas por cargos e ministérios, as mudanças de rumo e os motivos que levaram antigos companheiros do presidente Lula, inclusive o autor, a deixar o governo. Depois de uma vida inteira dedicada à militância e aos movimentos sociais, Frei Betto defendia a ideia de que o governo Lula não podia contar apenas com a sustentação política dos partidos se quisesse, realmente, promover as mudanças prometidas durante a campanha eleitoral. Precisava estreitar seus vínculos com a sociedade e os trabalhadores – representados pelo MST, sindicatos, movimento estudantil, comunidades eclesiais de base, associações e ONGs. Para o autor, as políticas sociais do governo só conseguiriam atingir seus objetivos com a participação direta da população em sua gestão e fiscalização. Sendo o PT um partido que nasceu dos movimentos sociais, de um governo eleito por ele esperava-se que valorizasse esses movimentos e lutasse para atender suas reivindicações, como a reforma agrária, a divisão mais justa das riquezas do país, a universalização da educação de qualidade e a preservação do meio ambiente. Com lucidez e perspicácia, Frei Betto aborda as implicações éticas do serviço público e analisa o governo, tanto do ponto de vista de quem está nas ruas lutando por melhorias, quanto de quem está dentro do Palácio do Planalto. Mais do que uma obra literária, este é um testemunho histórico imprescindível a quem se interessa em conhecer como funcionam as entranhas do poder.