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Vencedor do Prêmio SESC de Literatura de 2006 com o romance Casa entre vértebras (Record, 2007), e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2008, o psicanalista goiano Wesley Peres chega ao catálogo da Rocco com o romance As pequenas mortes. Com extraordinário manejo da linguagem, As pequenas mortes é um romance que flerta com a teoria ao falar de um tema caro à psicanálise: o corpo, com suas reverberações de dor e prazer, capaz de revirar a linguagem.
No livro, sexo e câncer são o que move o músico e pretenso escritor Felipe Werle. Natural de Goiânia, ele é obcecado pela ideia do câncer como morte natural que se alastra pela população depois da contaminação pelo Césio 137, em 1987. A tragédia foi “um pequeno imenso holocausto, um sacrifício consumado pelo fogo”.
Felipe vive uma vida angustiada, repleta de desejos – na maioria proibidos ou proibitivos. Cansado da vida de músico, ele resolve exorcizar seus prazeres e obsessões em um livro. E é esse processo que o leitor é convidado a acompanhar.
Há literatura de contar o mundo e suas histórias. E há literatura de revirar mundo e linguagem e cortar na carne e trazer poesia à força, para, em um gesto de cansaço ou esperança, disseminá-la em tudo que existe. As pequenas mortes é do segundo tipo. Aquele, digamos, de Beckett e Kafka, entre outros grandes – e especialmente, entre nós, de Guimarães Rosa. A figura que se entrevê, porém, nos desvãos dessas “pequenas mortes” – que, como se sabe, em francês são orgasmos – é sobretudo a de Georges Bataille. O corpo que grita, cheira, dói, ama e pensa e revira a linguagem. Alinhando a psicanálise de Lacan à herança ainda incômoda de Bataille, Peres faz da língua corpo e do corpo, língua, e escancara o gozo que a letra carreia. Ele põe o dedo, assim, naquele ponto agudo porém oculto que permite a própria existência da literatura.