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ADRIANO SILVA foi o melhor chefe que eu já tive. Quando cheguei à Abril, ele estava no auge. Tinha transformado uma revista meio careta numa marca descolada, que batia recorde de vendas e criava subprodutos deliciosos. Não lembro de uma pessoa com mais tesão pelo emprego. Enquanto muita gente considera o trabalho uma restrição de liberdade que nos obriga a encarar a realidade e a rotina, Adriano enxergava a Abril como o palco de uma banda de rock. Queria brilhar, e brilhava. Botava ideias na rua sem medo de quebrar a cara. Se entusiasmava com as pessoas e com a descoberta de jovens talentos, se deleitava com bons títulos, legendas e chamadas de capa. Estava no lugar certo, na hora certa e tinha consciência disso.
Uma vez, lá por 2004, me chamou para uma reunião. Leu trechos de três reportagens minhas e disse: “Isso aqui está ótimo. Mostra que você é um dos nossos, tem o nosso DNA”. Depois listou pontos em que eu deveria melhorar. Deixei a mesa revigorado, com uma enorme sensação de pertencimento (ingrediente fundamental da felicidade). Só horas depois percebi que aquela reunião servia para me chamar a atenção. Adriano tinha conseguido me dar uma bronca e ao mesmo tempo me deixar cheio de vontade de ser um editor melhor.
Este livro mostra como esse chefe excelente nasceu. Descreve os principais mestres e as dezenas de profissionais que ensinaram Adriano (um publicitário) a ser jornalista e gestor de pessoas. Conta a história de uma carreira, de uma editora e do último momento de ouro do jornalismo em revistas no Brasil.
Quem viveu essa história talvez sinta, ao ler o livro, um tipo amargo de saudade – como a saudade de parentes que já morreram ou de tempos que não voltam mais. Mas é bem melhor passar por essa saudade que deixar as boas histórias que vivemos na Abril caírem no esquecimento.
Leandro Narloch
Autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, foi editor de Aventuras na História e Superinteressante