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“Para escrever é preciso começar por se abster da força e apresentar-se à tarefa como quem nada quer” – as palavras de Clarice Lispector são colocadas em prática nas deliciosas crônicas ensaísticas de Affonso Romano de Sant’Anna. Poeta laureado com um prêmio Jabuti, crítico literário e catedrático, o autor consegue a proeza de abarcar uma grande variedade de temas, demonstrando raro domínio em tudo aquilo sobre o que se debruça. É embasado por esse invejável conhecimento de causa que Romano de Sant’Anna nos leva por um vasto passeio literário, visitando diversas épocas e provando que a boa literatura – nova ou antiga – permanecerá relevante e cheia de fôlego enquanto existirem pessoas e palavras.
Os temas aqui tratados vão desde a mítica relação entre a cegueira e a literatura – assunto de uma série de artigos brilhantes – até um perfil da amante de Flaubert, figura que teria inspirado a célebre Madame Bovary. Além das análises inspiradas, o autor nos brinda com “causos” literários preciosos, como o do arrependimento de André Gide por ter aconselhado a prestigiada editora francesa Gallimard a não publicar o livro Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. “Um dos remorsos mais cruéis de minha vida”, lamentaria Gide, anos depois. Por tudo isso, é inevitável que, ao longo da leitura, o prazer com que este livro foi escrito transborde das páginas para o leitor.