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A barca dos homens é considerado o primeiro grande romance de Autran Dourado. É, como o próprio autor define, uma “história de caça e pesca”. A trama gira em torno da perseguição ao inconsequente Fortunato, um deficiente mental que teria roubado uma arma. A ameaça sacode o pacato cotidiano e começa a mexer com a realidade e com os sonhos de habitantes e veranistas de uma ilha no litoral brasileiro.
Aqui, a iminência de um perigo gratuito e irracional faz aflorar sentimentos e desejos ocultos. Logo vem a revelação inevitável: ninguém é o que parece. Forças reprimidas surgem com a energia de uma ressaca, em ondas que ameaçam arrebentar tudo, mas que, por algum motivo, acabam fracas, "lambendo" a areia da praia. Como no mar, o ciclo recomeça e, um dia, pode ser que o final seja diferente.
Autran Dourado nos guia pelo microcosmo, até então tranquilo, da população humilde da ilha. Nesse passeio, conhecemos o rude tenente Fonseca, o despertar da rica Maria, a agonia de Frei Miguel e as vidas de tantos outros personagens. Em comum, todos parecem sentir de alguma forma a repressão que caracteriza suas existências e a vontade crescente de dar vazão a seus anseios.
Ao criar o quadro social e psicológico de uma comunidade, Dourado envolve o leitor com imagens fortes e personagens com características mitológicas e reais.
Autor vencedor do Prêmio Camões (2000) e do Prêmio Machado de Assis (2008).